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‘Lojistas! O Natal deve ser bom, mas cautela para 2025’

Para Fábio Pina, economista da FecomercioSP, emprego, renda e crédito devem impulsionar as vendas neste final de ano. Inflação e juros mais altos podem mudar cenário no ano que vem

Embalados pela alta do emprego e da renda, comerciantes e economistas consultados pelo Diário do Comércio projetam este fim de ano como um dos melhores da história do país.

Comparações com 2019, ano anterior ao da pandemia do novo coronavírus, sequer existem mais. O fluxo de pessoas nas lojas, de acordo com pesquisas, ainda é menor, na média, mas as vendas já superaram às daquele ano há algum tempo.

Se no início deste ano, economistas previam alta de 2% a 3% para o varejo, agora eles falam em 4% e 5%, até porque as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro também subiram de 1% a 1,5% para 3% ou mais.

É verdade que a prévia da inflação de novembro (0,62%), mais alta do que o mercado previa (0,48%), acendeu um sinal de alerta, assim como o dólar chegando aos R$ 6, mas o impacto maior não é para já, dizem eles, e sim para o ano que vem.

As condições para este final de ano, portanto, já estão dadas. O indicador mais comemorado é o da massa real de salários, que cresceu 7% em quatro trimestres terminados em setembro, na comparação com o período imediatamente anterior, de acordo com o IBGE.

“Lojistas, aproveitem este bom momento! As perspectivas para este final de ano são de crescimento de 3% a 5% para o varejo em relação a 2023. Além de emprego e renda crescendo, é a época do pagamento do 13º salário”, afirma Fábio Pina, economista da FecomercioSP.

Com 98 lojas, a rede Caedu, que vende roupas com preço médio de R$ 28, está se preparando para vender 10% mais neste final de ano, considerando as mesmas lojas, na comparação com igual período do ano passado.

“As vendas ficaram represadas e estamos trabalhando com peças mais versáteis, que podem ser usadas o ano todo”, diz Leninha Palma, presidente do conselho de administração da rede.

Com 26 lojas próprias, 55 franquias e 2 mil lojas multimarcas, a Tommy Hilfiger, que atende um público com maior poder aquisitivo, já projeta venda 25% maior (mesmas lojas), no período.

“Após uma eleição conturbada, até com cadeirada, sinto que o brasileiro relaxou e, quando o consumidor está com a cabeça mais tranquila, mais animado, ele compra”, afirma Paulo Matos, diretor-geral da Tommy Hilfiger no Brasil.

Inaugurado no dia 20 de novembro, o Santa Maria Outlet, localizado em Cravinhos (SP), comemora a superação de expectativas de visitantes e de vendas.

Em cinco dias, o empreendimento, que conta com 106 operações, recebeu a visita de 80 mil pessoas, de acordo com Júlio Di Madeo, diretor comercial. “A Adidas bateu a meta de vendas para o mês, assim como a Mizuno, a Under Armour e a Levis”, afirma.

Além de ser o único outlet da região, diz, o sucesso de inauguração está atrelado aos indicadores mais favoráveis ao consumo, ao evento Black Friday e ao 13º salário.

“Essa também é uma região rica, como muitas empresas de prestação de serviço e com um agronegócio muito forte”, comenta Di Madeo.

Cerca de 90% das lojas do Santa Maria já estão locadas e a procura das marcas tem sido tão grande que o centro comercial está escolhendo quem deve entrar para compor o mix.

O EMPURRÃO DO CRÉDITO

Considerada até mesmo um termômetro do varejo, a matriz do Armarinhos Fernando, localizada na rua 25 de Março, região central de São Paulo, prevê aumento de 2,5% a 3% nas vendas neste fim de ano, na comparação com igual período de 2023.

Ondamar Ferreira, gerente da loja, diz que o fluxo de pessoas está estabilizado e que o crescimento nas vendas se deve ao lançamento do cartão próprio da rede, com 16 lojas, que parcela compras acima de R$ 400 em até oito vezes sem juros.

O cartão do Armarinhos Fernando tem pouco mais de um ano e já representa entre 25% a 30% do faturamento da loja que, neste mês, tem como carro-chefe a venda de artigos natalinos. Em dezembro, os brinquedos ficam no topo da lista dos mais vendidos na loja.

Assim como a massa real de salários, o crédito tem puxado o consumo neste ano. Redes de lojas estão oferecendo mais prazo de pagamento para impulsionar as vendas.

O Armarinhos Fernando, que vendia em até seis vezes no cartão próprio, esticou o prazo para oito vezes. A Casas Bahia oferece parcelamento em até 24 meses por meio de seu carnê digital.

A Amazon Brasil lançou em setembro o que chama de ‘parcele sem cartão’, oferecendo parcelamento em até 24 meses nas compras de até R$ 10 mil.

Pina lembra que o Brasil já viveu este filme antes, de estímulo ao consumo por meio de financiamento, e o resultado não foi bom pois resultou em alta da inadimplência.

“É difícil explicar para o empresário que dar mais prazo para estimular o consumo, forçando a barra, pode custar caro mais lá na frente, como já se viu com grandes redes”, diz.

A Caedu parcela a compra do cliente em até oito vezes com cartão próprio, que já representa cerca de 40% do faturamento da rede.

“Enfrentamos uma onda de alta de inadimplência, mas que agora está estabilizada. Temos boas ferramentas para analisar e dar crédito consciente, somos rigorosos”, diz Leninha.

De acordo com ela, é melhor negar o crédito e ter o cliente na loja mesmo gastando menos do que liberar um financiamento de forma irresponsável e perdê-lo.

“Não queremos ter uma relação negativa com o consumidor, de cobrança, por isso não corremos riscos e queremos tê-lo sempre na loja”, diz.

Os números de famílias endividadas e inadimplentes em novembro já dão pistas de que o consumo pode frear em 2025, de acordo com Pina.

Pesquisa de novembro da Fecomercio SP mostra que 68,4% das famílias paulistas estão endividadas, 19,5% com contas em atraso e 8,9% sem condições de pagar o que devem.

O número de famílias endividadas é maior do que o de outubro (67,8%) e do que o de setembro (68,1%). O percentual de famílias sem condições de pagar as dívidas está subindo desde setembro.

“Não há dúvida que as perspectivas são positivas para este final de ano. O volume de vendas do comércio deverá ser o maior da história, mas os varejistas têm de ter em mente que 2025 será um ano bem mais desafiador”, afirma Pina.

A inflação está subindo, diz, e uma das formas de corrigir a alta dos preços é justamente com a elevação dos juros, que tem impacto negativo sobre investimentos, renda, consumo.

“O mercado de trabalho que ajudou tanto o comércio neste ano já não deve ajudar no ano que vem, pois o país já registra uma das menores taxas de desemprego da história”, diz Fábio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio).

Com uma taxa de câmbio em R$ 6, diz, o impacto na inflação é certo, o que deve prorrogar o aperto monetário. “Até trazer a expectativa de inflação para o centro da meta demora um tempo, e a taxa de juros deve subir. Portanto, 2025 será desafiador”, afirma Bentes.

CONFIANÇA

A confiança do consumidor na economia é um dos termômetros mais importantes para guiar os lojistas em relação à disposição para as compras futuras.

Em novembro, o Índice de Confiança dos Consumidores (ICC) da FecomercioSP caiu 4,5% e o Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) caiu 6,9% sobre igual mês do ano passado.

O ICC foi de 123,9 pontos e o ICF, de 105,5 pontos. A pontuação vai de zero a 200. Pode se dizer que número acima de 100 está na faixa do otimismo e abaixo, do pessimismo.

Neste ano, o índice de confiança atingiu o pico em fevereiro, com 138,2 pontos. Como base de comparação, o ICF em novembro do ano passado foi de 113,2 pontos.

O país, de acordo com os economistas e os lojistas ouvidos, precisa de uma política fiscal consistente para crescer de forma sustentada e não apenas em certo período por causa de um ou outro indicador mais favorável ao consumo, como acontece hoje com o emprego e a renda.

A CNC projeta um crescimento de 4% para o varejo neste ano. “Se chegar a crescer 2% no ano que vem, já vai ser bastante”, afirma Bentes.

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